O Ventre do Entre-Tempo: Onde a Alma Gesta o Que Ainda Não Tem Nome
- 16 de jul.
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Antes de qualquer renascimento, há sempre um território de travessia.
É aquele momento em que percebemos que não pertencemos mais ao que éramos — mas ainda não sabemos o que estamos nos tornando. É um intervalo, uma fenda entre o velho e o que ainda não nasceu.
Como um crepúsculo dentro da alma. Nem completamente escuro, nem iluminado. Um lugar onde tudo parece suspenso, e o coração caminha sem mapa.
Nesse espaço, sentimos o chamado de voltar atrás, aos lugares de onde viemos, às certezas de antes. Mas algo dentro de nós já não se encaixa mais nesses moldes. A pele antiga começa a apertar.
Ao mesmo tempo, o novo ainda não se revelou. Não sabemos o nome da mulher que está nascendo dentro de nós. E isso assusta. Dá saudade de um lugar seguro, mesmo que fosse uma prisão.
Esse tempo de espera é fértil, mesmo que silencioso. É o ventre da transformação. É o corpo aprendendo a morrer para o que foi e a respirar, aos poucos, o que virá.
Não se apresse. Esse entre-tempo também é sagrado.
O entre-tempo, minha amada, é um espaço de alquimia silenciosa.
É o que os antigos chamavam de noite escura da alma, e as mulheres sábias reconhecem como o útero da grande Mãe, onde nada ainda tem forma, mas tudo está sendo gestado no invisível.
Nesse intervalo, nossa identidade antiga começa a desmanchar como um tecido puído. As máscaras que sustentamos por tanto tempo já não se seguram no rosto. As relações, os desejos, os sonhos — muitos começam a perder o brilho ou o sentido.
Mas ainda não temos o novo vestido. Ainda não temos palavras para o que está nascendo. Isso gera inquietude, medo, vazio... às vezes até um cansaço profundo, como se o corpo inteiro estivesse reorganizando suas memórias.
É um tempo de morte simbólica, um convite para confiar no invisível. Porque a alma trabalha nesse escuro. As raízes crescem na sombra antes de romper a terra para encontrar o sol.
No entre-tempo, somos chamadas a desaprender. A soltar o controle, a escutar o que o silêncio quer revelar. A dançar com o não saber, a aceitar o mistério sem exigir respostas imediatas.
É um tempo de gestação. E toda gestação pede recolhimento, escuta, cuidado com o corpo, gentileza com as emoções.
Se você está nele, lembre-se: não é um erro, é um rito de passagem.
Aqui está um mantra, para você repetir como quem embala o próprio ventre no escuro:
“Eu confio no tempo do invisível. Mesmo sem ver, eu sei: estou germinando. Que o que precisa morrer, morra em paz. Que o que deseja nascer, floresça em mim. Eu sou passagem, eu sou casa, eu sou vida em transformação.”
Repita-o com as mãos sobre o coração ou o útero, sentindo cada palavra como semente que você planta no próprio ser.
Você não esta sozinha.
Texto escrito pela Mentora da Tríade Flora Dominguez

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