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O Brinde ao Ser que Nunca se Fecha

  • 27 de ago.
  • 2 min de leitura

Há em mim uma consciência que já não busca mais o fim da estrada, mas a celebração de cada curva, de cada pausa, de cada incompletude que pulsa como lembrança de que estou viva. Durante muito tempo acreditei que a perfeição seria o meu destino, um lugar seguro onde, finalmente, eu poderia repousar sem o peso da falta. Hoje sei: a falta é o próprio sopro que me move.


Não há plenitude sem o vazio que a antecede. Não há conquista sem o espaço onde antes só havia desejo. E, assim, aprendi a olhar para o copo pela metade não como metáfora rasa de otimismo, mas como símbolo profundo daquilo que sou: uma mulher em fluxo. Metade água que carrego como herança, histórias, cicatrizes e vitórias. Metade espaço aberto, útero sagrado, território fértil que ainda espera por sonhos e criações.


Brindar à incompletude é o meu modo de honrar esse entre lugar, essa dança de presenças e ausências que me atravessam. Quando ergo o copo diante dos meus olhos, não vejo falta, vejo possibilidade. Não vejo vazio, vejo um chamado. Cada espaço ainda não preenchido é convite para o novo, para o inesperado, para a vida que insiste em me surpreender.


O mundo me ensinou a temer minhas metades, como se vulnerabilidade fosse fraqueza e desejo fosse pecado. Mas é na vulnerabilidade que aprendo a me entregar. É no desejo que reconheço a centelha que me empurra para além do que sou. Não quero mais ser inteira demais a ponto de não caber movimento. Prefiro a inteireza que dança com a própria imperfeição.


E quando a noite me pede balanço, não celebro apenas o que conquistei. Celebro também o que ainda não veio. Agradeço ao espaço aberto, às lacunas, às perguntas sem resposta. Porque é nesse intervalo que o mistério me visita. É nesse silêncio fecundo que minha alma respira e se expande.


A incompletude é o altar onde me reconheço em eterna construção. Ali não há pressa. Não há cobrança. Só há o fluxo. E eu, filha desse movimento, ergo o copo e digo: brindo ao que sou e ao que ainda me falta. Brindo às minhas cicatrizes e aos sonhos que ainda não tiveram corpo. Brindo às ausências que me ensinam, tanto quanto as presenças que me sustentam.


Sou mulher em processo. Sou vida em metamorfose. E é nesse inacabado que me torno infinita. Porque cada pedaço que me falta abre espaço para novas danças, novos sabores, novas formas de amar e de existir. Hoje não busco o fim da estrada. Hoje celebro o caminho. Hoje, incompleta e viva, ergo o copo e me escolho, metade desejo, metade conquista, inteira em movimento.


Texto da psicanalista e Mentora da Tríade Flora Dominguez


Filha da vida, a Tríade te chama: escutar, sentir e florescer. Um espaço sagrado, só para mulheres, onde tua incompletude é força e tua dor se transforma em amor. Vem se reconhecer inteira em movimento. Vem brindar ao teu renascimento.


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